Diversas culturas cuja observação da natureza era prática
intrínseca à sua concepção de mundo, viam um significado simbólico importante
nas mudanças marcadas pelas diferentes estações do ano. E a chegada da
primavera se preenche, nessa perspectiva, de um sentido especial: é a estação
do despertar, de novos começos, de um ciclo marcado pela prosperidade e pela
alegria.
De fato, é na estação que a antecede, o inverno, a época
propícia para a poda da maioria das plantas, já que é um período de dormência
(menor atividade): alguns ramos estão secos e dessa forma a planta é renovada,
favorecendo o desenvolvimento das estacas que permanecem, concentrando a seiva
e trazendo toda sua vitalidade na estação que irá se iniciar. Historicamente o inverno também era associado a uma maior
escassez de alimentos e até a um desconforto físico pelo rigor da temperatura.
A chegada da primavera era então celebrada com rituais de Fertilidade e
Abundância.
Ou seja, povos que viviam de forma intensa as mudanças
trazidas pela natureza não tinham uma separação tão limitadora entre a vida
simbólica e a vida prática. A nossa cultura essencialmente urbana desfez essa
sabedoria de observação dos ritmos e da celebração por ritos.
Mas existe algo em nós, mulheres, que, apesar dos
encobrimentos da nossa vida essencialmente racional, linear e outras
artificialidades vividas, comunica essa linguagem rítmica, circular, natural.
Esse “algo” é o nosso corpo, que se prepara mensalmente para a fertilidade, que
verte o sangue gerado nessa preparação, num rearranjo de hormônios marcando uma
dança não apenas física, mas intensamente emocional. E, a certa altura da vida,
essa dança compõe uma nova experiência na alma feminina, a menopausa, trazendo
uma passagem que marca um tempo de experiências acumuladas, sabedoria adquirida
nos muitos olhares, muitos ciclos, muitas luas que essa única e tão múltipla
mulher experimentou.
Entender o corpo e alma feminina está mais para a poesia do
que para a prosa, e nessa sintonia múltipla, complexa e sensível, entram também
dessa forma os óleos essenciais, ajudando a equilibrar a saúde, as emoções e as
energias que permeam a nós, mulheres.
Os óleos essenciais são substâncias quimicamente complexas
em sua grande maioria, o que explica em parte seu grande alcance de atuação no
organismo humano. Possuem grande capacidade de penetração na corrente sanguínea
quando aplicados na pele, e, através do olfato, grande alcance de atuação no
plano emocional e mental, já que é o sentido que acessa a parte do cérebro que
processa as emoções, memórias, afetividades, corportamentos sexuais e instintivos.
Na última vivência realizada na SerenaTerra , que deu origem
a esse texto, abordei alguns dos óleos essenciais para o feminino. Existem vários
possíveis, e esse estudo estará sempre aberto, já que uma das belezas dessa
terapia é que cada pessoa tem sintonias e necessidades distintas entre si, e
assim as indicações de óleos essenciais para cada uma também se dão de forma
particular. Para não ficar muito extenso
aqui, vou me ater a 4 óleos. Esse guia resumido
pode ajudar você a se equilibrar em diversas fases e momentos que estiver
passando, não se esquecendo que num contexto mais amplo, uma questão primordial
nessa busca por saúde e equilíbrio é se ouvir, aprender a perceber a sensível
comunicação do corpo, a se respeitar como mulher e como pessoa, e não apenas a
amenizar ou suprimir sintomas.
Então vamos começar a roda de aromas que se sintonizam com a
energia feminina:
GERÂNIO
Pelargonium graveolens
É um dos principais óleos essenciais para restabelecer o
equilíbrio hormonal feminino, atenua os efeitos desagradáveis da Tensão
Pré-Menstrual (TPM) como: dores de cabeça, irritação, cólicas, dores nos seios,
enjôos, falta de estabilidade emocional, oscilações de humor e também da menopausa, combatendo as ondas de
calor e estados depressivos que podem ser típicos nesta fase da vida.
É um óleo que traz à tona uma sensação de coragem, sendo
especial no sentimento de baixa autoestima e de abandono. Tem afinidade com as questões do coração, e
assim ajuda a dissolver a raiva, angústias, mágoas, medos persistentes, além de
melhorar taquicardia e sensações dolorosas no peito.
É um óleo que trabalha o equilíbrio do organismo, portanto revigora
os ânimos, mas também relaxa e acalma em momentos de estresse.Dessa forma, atua
bem como um antidepressivo natural em qualquer fase, para homens e mulheres.
Nesses casos de ação no plano mais emocional e mental, as
utilizações que enfatizam o olfato são muito indicadas, como o colar
aromaterápico.
Promove uma melhor circulação sanguínea, portanto atua de
forma positiva na celulite e, ao lado de suas propriedades diuréticas, ajuda a
eliminar toxinas do organismo, a retenção de líquidos e inchaço. Equilibra
qualquer tipo de pele, hidrata e revigora. Para esses efeitos pode ser feita
uma massagem com diluição a 2 % em óleo vegetal (exemplo: 2 gotas de óleo
essencial de gerânio em 5 ml de óleo vegetal de amêndoas). No rosto, se for
preferível, a diluição pode ser feita num gel neutro.
SÁLVIA
Salvia sclarea
Assim como o gerânio, a sálvia também atua na regulação
hormonal feminina, sendo bastante empregada para equilibrar disfunções como
TPM, menstruação irregular, cólicas, depressão,
falta de libido, e questões da menopausa como ondas de calor, palpitações,
etc. Com ação sobre o útero, é um bom óleo para ser utilizado durante o parto.
É também um poderoso relaxante mental e físico. Age nos
nervos e também na musculatura, além de ser hipotensor, eficaz para
reduzir a pressão sanguínea. Trata enxaquecas e dores de cabeça. Pode ser usado
em massagem, diluído a 3% (exemplo: 3 gotas de óleo essencial de sálvia em 5 ml
de óleo de semente de uva) aliviando ainda a sensação de esgotamento
e cansaço.
Um potente antidepressivo e ajuda a combater a insônia. É um
óleo que traz o equilíbrio mental e emocional.
Trabalhamos muito nosso plano psíquico mais inconsciente nos
sonhos, e o óleo essencial de Sálvia propicia em muitas pessoas sonhos mais
nítidos e intensos, ajudando a revelar ou trabalhar questões emocionais.
Seu nome deriva do latim salvare = salvar, curar, clarus
= claro, trazendo o simbolismo da clareza, da visão interna, da sabedoria. Um
olhar para dentro de si, reconhecendo e equilibrando aspectos emocionais negativos,
trazendo a claridade.
YLANG YLANG
Cananga odorata
Esse é um óleo muito conhecido por conter propriedades
afrodisíacas. Na Indonésia, por exemplo, suas flores são usadas para perfumar e
enfeitar a cama do casal na noite de núpcias, acreditando-se nesse poder de
aumentar a libido.
Na verdade este óleo possui propriedades bastante relaxantes,
atuando como calmante e levemente sedativo.E, nessa perspectiva de propiciar
uma tranquilidade, com seu inebriante aroma floral, é um óleo que auxilia na
sensação de entrega, de abertura ao prazer, atuando ainda de forma a ampliar a
percepção que se tem sobre a outra pessoa. Nesse âmbito, é útil não apenas num
relacionamento amoroso, mas em quaisquer outros que necessitem de um olhar mais
tranquilo e ampliado, trabalhando a afetividade.
O óleo essencial de
Ylang Ylang equilibra e trata o sistema reprodutor, tem efeito tônico para o
útero e para as mamas. Pode-se, para isso, fazer uma massagem com o óleo
diluído em óleo vegetal, como o de amêndoas, em diluição a 1% ou 2% (exemplo: 1
ou 2 gotas de ylang ylang em 5 ml de óleo de amêndoas). É um aroma bastante
intenso, sendo importante observar sua sensibilidade a ele. Use bem diluído ou
misturado a outros óleos essenciais, se lhe for mais confortável. Tem notável
efeito hipotensor, devendo ser usado com cautela em quem tem pressão baixa.
CIPRESTE
Cupressus
sempervirens
Indicado para problemas
de menopausa e menstruação. É ótimo em casos de menstruação abundante e
dolorosa, e atua de forma eficaz no combate a cólicas menstruais. Nesses
casos, pode-se fazer uma compressa, adicionando 8 gotas de óleo essencial de
Cipreste em água bem quente, umedecer uma toalha e aplicar no baixo ventre.
Tonificante do sistema nervoso, reduz o stress e a fadiga
mental, e ajuda ainda na melhora da concentração e da memória.
Muito utilizado no tratamento de problemas circulatórios, diminui a
retenção de fluidos corporais, sendo útil nos inchaços que precedem e acompanham o período menstrual.
Esse trabalho sobre os fluxos não se limita ao
plano físico, mas também emocional: o óleo de cipreste ajuda quando não há
sintonia com mudanças importantes, indicado assim em situações de perda de
relacionamentos, empregos, até mesmo o luto.
Corpo, Lua e Óleos
Trabalho da artista Mara Friedman |
Voltando um pouco ao
início do texto, onde falei sobre a perda da nossa conexão com ritmos naturais
internos e externos, vejo os óleos essenciais como importantes elementos para
ajudar nessa percepção da sabedoria do corpo, ampliando a sensibilidade e trazendo
equilíbrio.
De forma belíssima e de um certo mistério, nas mulheres os
ritmos internos se conduzem com ritmos externos, lunares. O dentro e o fora se
unem no corpo. E as experiências desse corpo-alma também passam por momentos marcados
por ritmos pessoais, únicos para cada mulher. Poderíamos vivenciar de forma
mais sensível e consciente essas experiências transformadoras, unindo o
simbolismo desses momentos de passagem e o impacto emocional e físico que
trazem: o início da menstruação, a descoberta da experiência sexual, as uniões
afetivas importantes, a maternidade, a amamentação, a menopausa. O olfato, como falei, é conectado de forma
íntima com nossos centros de memória e afetividade, e cada uma dessas fases
pode ser celebrada, acolhida e, se necessário, equilibrada com os aromas
naturais.
ESCLARECIMENTOS:
Esses óleos são contra indicados durante a gestação, sendo
que o gerânio e o ylang ylang podem ser usados após o quinto mês em maior
diluição (0,5% a 1 %).
A Sálvia Esclaréia e o Gerânio em especial, estimulam os
ovários, e assim devem ser utilizados com cautela por quem tem mioma ou
endometriose e tenha sido suspensa da menstruação por medicamentos, pois eles influenciam
no fluxo menstrual. Não existe ainda um consenso e um estudo efetivo sobre o
uso do óleo essencial de Sálvia durante a amamentação, sendo encontrados
relatos tanto de que estimula o aleitamento, quanto de que o diminui, portanto
não recomendo seu uso nessa fase.