terça-feira, 20 de outubro de 2015

DESPERTANDO A PRIMAVERA COM OS AROMAS DO FEMININO



Diversas culturas cuja observação da natureza era prática intrínseca à sua concepção de mundo, viam um significado simbólico importante nas mudanças marcadas pelas diferentes estações do ano. E a chegada da primavera se preenche, nessa perspectiva, de um sentido especial: é a estação do despertar, de novos começos, de um ciclo marcado pela prosperidade e pela alegria.

De fato, é na estação que a antecede, o inverno, a época propícia para a poda da maioria das plantas, já que é um período de dormência (menor atividade): alguns ramos estão secos e dessa forma a planta é renovada, favorecendo o desenvolvimento das estacas que permanecem, concentrando a seiva e trazendo toda sua vitalidade na estação que irá se iniciar. Historicamente o inverno também era associado a uma maior escassez de alimentos e até a um desconforto físico pelo rigor da temperatura. A chegada da primavera era então celebrada com rituais de Fertilidade e Abundância.

Ou seja, povos que viviam de forma intensa as mudanças trazidas pela natureza não tinham uma separação tão limitadora entre a vida simbólica e a vida prática. A nossa cultura essencialmente urbana desfez essa sabedoria de observação dos ritmos e da celebração por ritos.

Mas existe algo em nós, mulheres, que, apesar dos encobrimentos da nossa vida essencialmente racional, linear e outras artificialidades vividas, comunica essa linguagem rítmica, circular, natural. Esse “algo” é o nosso corpo, que se prepara mensalmente para a fertilidade, que verte o sangue gerado nessa preparação, num rearranjo de hormônios marcando uma dança não apenas física, mas intensamente emocional. E, a certa altura da vida, essa dança compõe uma nova experiência na alma feminina, a menopausa, trazendo uma passagem que marca um tempo de experiências acumuladas, sabedoria adquirida nos muitos olhares, muitos ciclos, muitas luas que essa única e tão múltipla mulher experimentou.

Entender o corpo e alma feminina está mais para a poesia do que para a prosa, e nessa sintonia múltipla, complexa e sensível, entram também dessa forma os óleos essenciais, ajudando a equilibrar a saúde, as emoções e as energias que permeam a nós, mulheres.
Os óleos essenciais são substâncias quimicamente complexas em sua grande maioria, o que explica em parte seu grande alcance de atuação no organismo humano. Possuem grande capacidade de penetração na corrente sanguínea quando aplicados na pele, e, através do olfato, grande alcance de atuação no plano emocional e mental, já que é o sentido que acessa a parte do cérebro que processa as emoções, memórias, afetividades, corportamentos sexuais e instintivos.

Na última vivência realizada na SerenaTerra , que deu origem a esse texto, abordei alguns dos óleos essenciais para o feminino. Existem vários possíveis, e esse estudo estará sempre aberto, já que uma das belezas dessa terapia é que cada pessoa tem sintonias e necessidades distintas entre si, e assim as indicações de óleos essenciais para cada uma também se dão de forma particular.  Para não ficar muito extenso aqui, vou me ater a 4 óleos.  Esse guia resumido pode ajudar você a se equilibrar em diversas fases e momentos que estiver passando, não se esquecendo que num contexto mais amplo, uma questão primordial nessa busca por saúde e equilíbrio é se ouvir, aprender a perceber a sensível comunicação do corpo, a se respeitar como mulher e como pessoa, e não apenas a amenizar ou suprimir sintomas.

Então vamos começar a roda de aromas que se sintonizam com a energia feminina:


GERÂNIO

Pelargonium graveolens

É um dos principais óleos essenciais para restabelecer o equilíbrio hormonal feminino, atenua os efeitos desagradáveis da Tensão Pré-Menstrual (TPM) como: dores de cabeça, irritação, cólicas, dores nos seios, enjôos, falta de estabilidade emocional, oscilações de humor e também da menopausa, combatendo as ondas de calor e estados depressivos que podem ser típicos nesta fase da vida.
É um óleo que traz à tona uma sensação de coragem, sendo especial no sentimento de baixa autoestima e de abandono. Tem afinidade com as questões do coração, e assim ajuda a dissolver a raiva, angústias, mágoas, medos persistentes, além de melhorar taquicardia e sensações dolorosas no peito.
É um óleo que trabalha o equilíbrio do organismo, portanto revigora os ânimos, mas também relaxa e acalma em momentos de estresse.Dessa forma, atua bem como um antidepressivo natural em qualquer fase, para homens e mulheres.
Nesses casos de ação no plano mais emocional e mental, as utilizações que enfatizam o olfato são muito indicadas, como o colar aromaterápico.
Promove uma melhor circulação sanguínea, portanto atua de forma positiva na celulite e, ao lado de suas propriedades diuréticas, ajuda a eliminar toxinas do organismo, a retenção de líquidos e inchaço. Equilibra qualquer tipo de pele, hidrata e revigora. Para esses efeitos pode ser feita uma massagem com diluição a 2 % em óleo vegetal (exemplo: 2 gotas de óleo essencial de gerânio em 5 ml de óleo vegetal de amêndoas). No rosto, se for preferível, a diluição pode ser feita num gel neutro.




SÁLVIA

Salvia sclarea

Assim como o gerânio, a sálvia também atua na regulação hormonal feminina, sendo bastante empregada para equilibrar disfunções como TPM, menstruação irregular, cólicas, depressão, falta de libido, e questões da menopausa como ondas de calor, palpitações, etc. Com ação sobre o útero, é um bom óleo para ser utilizado durante o parto.
É também um poderoso relaxante mental e físico. Age nos nervos e também na musculatura, além de ser  hipotensor, eficaz para reduzir a pressão sanguínea. Trata enxaquecas e dores de cabeça. Pode ser usado em massagem, diluído a 3% (exemplo: 3 gotas de óleo essencial de sálvia em 5 ml de óleo de semente de uva) aliviando ainda a sensação de esgotamento e cansaço.
Um potente antidepressivo e ajuda a combater a insônia. É um óleo que traz o equilíbrio mental e emocional.
Trabalhamos muito nosso plano psíquico mais inconsciente nos sonhos, e o óleo essencial de Sálvia propicia em muitas pessoas sonhos mais nítidos e intensos, ajudando a revelar ou trabalhar questões emocionais.
Seu nome deriva do latim salvare = salvar, curar, clarus = claro, trazendo o simbolismo da clareza, da visão interna, da sabedoria. Um olhar para dentro de si, reconhecendo e equilibrando aspectos emocionais negativos, trazendo a claridade.



YLANG YLANG

Cananga odorata

 Esse é um óleo muito conhecido por conter propriedades afrodisíacas. Na Indonésia, por exemplo, suas flores são usadas para perfumar e enfeitar a cama do casal na noite de núpcias, acreditando-se nesse poder de aumentar a libido.
Na verdade este óleo possui propriedades bastante relaxantes, atuando como calmante e levemente sedativo.E, nessa perspectiva de propiciar uma tranquilidade, com seu inebriante aroma floral, é um óleo que auxilia na sensação de entrega, de abertura ao prazer, atuando ainda de forma a ampliar a percepção que se tem sobre a outra pessoa. Nesse âmbito, é útil não apenas num relacionamento amoroso, mas em quaisquer outros que necessitem de um olhar mais tranquilo e ampliado, trabalhando a afetividade.
O óleo essencial de Ylang Ylang equilibra e trata o sistema reprodutor, tem efeito tônico para o útero e para as mamas. Pode-se, para isso, fazer uma massagem com o óleo diluído em óleo vegetal, como o de amêndoas, em diluição a 1% ou 2% (exemplo: 1 ou 2 gotas de ylang ylang em 5 ml de óleo de amêndoas). É um aroma bastante intenso, sendo importante observar sua sensibilidade a ele. Use bem diluído ou misturado a outros óleos essenciais, se lhe for mais confortável. Tem notável efeito hipotensor, devendo ser usado com cautela em quem tem pressão baixa.

CIPRESTE

Cupressus sempervirens
 

Indicado para problemas de menopausa e menstruação. É ótimo em casos de menstruação abundante e dolorosa, e atua de forma eficaz no combate a cólicas menstruais. Nesses casos, pode-se fazer uma compressa, adicionando 8 gotas de óleo essencial de Cipreste em água bem quente, umedecer uma toalha e aplicar no baixo ventre.
Tonificante do sistema nervoso, reduz o stress e a fadiga mental, e ajuda ainda na melhora da concentração e da memória.
Muito utilizado no tratamento de problemas circulatórios, diminui a retenção de fluidos corporais, sendo útil nos inchaços que precedem e acompanham o período menstrual. 
Esse trabalho sobre os fluxos não se limita ao plano físico, mas também emocional: o óleo de cipreste ajuda quando não há sintonia com mudanças importantes, indicado assim em situações de perda de relacionamentos, empregos, até mesmo o luto.





Corpo, Lua e Óleos

Trabalho da artista Mara Friedman


Voltando um pouco ao início do texto, onde falei sobre a perda da nossa conexão com ritmos naturais internos e externos, vejo os óleos essenciais como importantes elementos para ajudar nessa percepção da sabedoria do corpo, ampliando a sensibilidade e trazendo equilíbrio.
De forma belíssima e de um certo mistério, nas mulheres os ritmos internos se conduzem com ritmos externos, lunares. O dentro e o fora se unem no corpo. E as experiências desse corpo-alma também passam por momentos marcados por ritmos pessoais, únicos para cada mulher. Poderíamos vivenciar de forma mais sensível e consciente essas experiências transformadoras, unindo o simbolismo desses momentos de passagem e o impacto emocional e físico que trazem: o início da menstruação, a descoberta da experiência sexual, as uniões afetivas importantes, a maternidade, a amamentação, a menopausa.  O olfato, como falei, é conectado de forma íntima com nossos centros de memória e afetividade, e cada uma dessas fases pode ser celebrada, acolhida e, se necessário, equilibrada com os aromas naturais.



ESCLARECIMENTOS:


Esses óleos são contra indicados durante a gestação, sendo que o gerânio e o ylang ylang podem ser usados após o quinto mês em maior diluição (0,5% a 1 %).
A Sálvia Esclaréia e o Gerânio em especial, estimulam os ovários, e assim devem ser utilizados com cautela por quem tem mioma ou endometriose e tenha sido suspensa da menstruação por medicamentos, pois eles influenciam no fluxo menstrual. Não existe ainda um consenso e um estudo efetivo sobre o uso do óleo essencial de Sálvia durante a amamentação, sendo encontrados relatos tanto de que estimula o aleitamento, quanto de que o diminui, portanto não recomendo seu uso nessa fase.